segunda-feira, 8 de março de 2010

Divagações.

Dia Internacional das Mulheres.

Dia Internacional de quem? Por quê?
Lembro de um dia, na escola, quando ainda estudava no Fundamental, receber um papelzinho para colar no caderno. Aquele papel contava a história de mulheres que, na ânsia de condições melhores de trabalho, resolveram fazer uma greve, mas foram trancafiadas na fábrica e morreram queimadas em grande agonia.

Fico pensando, a partir dessa história, quais são as mulheres que merecem esse dia hoje. Não são todas.
Tem aquela que vai pro baile funk e dança a "dança da cadeira" com uma fila de homens que ela nunca viu na vida, mas ela não está preocupada, tira a calcinha e vai firme e forte sentar no colo de um desconhecido.
Tem aquela que não teve acesso aos estudos e por isso acha mais fácil ter quatro filhos e colocá-los no farol pra pedir dinheiro enquanto ela se senta na calçada, com mais um filho no colo e outro na barriga, e fuma um cigarrinho pra relaxar, afinal a vida dela é muito dura.
Tem outra que mesmo tendo todo o conforto de uma casa, a alegria de um marido e filhos saudáveis ainda acha legal ir na Rua 25 de Março com um estilete e abrir bolsas alheias para roubar carteiras.

Isso, pra mim, não merece nenhum tipo de homenagem.

Quando tivemos a semana de palestras promovidas pela CIPA (Controle Interno de Proteção de Acidentes) da empresa, houve uma palestra sobre a Copere, uma cooperativa que separa o lixo reciclável para que ele seja encaminhado para um lugar específico. As duas palestrantes não tinham os dentes da frente e se vestiam de maneira bem humilde; falavam baixo e estavam deslocadas ao falarem para tantas pessoas, mas mesmo assim, com todas as situações possíveis para se intimidarem, falaram de como vieram para São Paulo com seus numerosos filhos procurando situações que levassem a um emprego digno para alimentarem seus filhos. Começaram como catadoras de lixo, puxando carroças com quilos e quilos de papelão. Trabalhavam mais de doze horas por dia para ganhar cerca de R$14,00, quando tinham sorte. Descobriram a cooperativa e a vida delas mudou: pararam de recolher papelão e começaram a separar o lixo, junto com mais algumas funcionárias. 
No começo tiveram medo: a cooperativa não queria funcionários analfabetos e desmotivados, já que o trabalho era duro e elas estavam muito castigadas da vida sofrida que tinham até então. Ficaram com receio de serem mandadas embora, mas o que elas não entenderam é que o dono da cooperativa não queria funcionários que não soubessem ler, mas isso não o faria colocá-los na rua: daria todas as ferramentas para que essas pessoas fossem alfabetizadas ali mesmo, no serviço.
As duas mulheres sofridas com a vida dura que tinham até então, passaram a estudar e ansiar por mais: conhecimento atrai conhecimento. 
Hoje elas são supervisoras do serviço que antigamente elas faziam, e chegam a receber mais de R$800,00 por mês, trabalhando com escalas, convênio médico e com muita dignidade.

ISSO PRA MIM É EXEMPLO. É para elas que devemos desejar um Feliz dia da Mulheres.



Essa mulher da foto é um exemplo.
Nasceu em 1929, a segunda filha de cerca de sete filhos, filha de uma austríaca com um espanhol. Cresceu em um sítio no interior de São Paulo, onde frequentou a escola até a quarta série. Ajudava sua mãe em casa, aprendeu a costurar, bordar e fazer crochê e tricot. 
Durante sua infância e adolescência passou por algumas situações difíceis; tinha muitos irmãos homens e seu pai tinha um gênio extremamente forte. 
Um belo dia, ao pegar um trem de volta para sua cidade, se depara com um homem super elegante. Trocam algumas palavras e ela se apaixona à primeira vista. Vive com aquele homem em seus pensamentos, porque não poderia passar disso: já tem um pretendente, e ele é de uma família de portugueses da cidade.
Quando estão prestes a se casar, ela começa a costurar seu vestido, quando sua futura sogra diz que ela era impura, por ter sonhado com o homem do trem. Não merece casar de branco. 

A maior humilhação da vida de minha avó foi ser obrigada a casar de verde. 

Ela, que se guardou para seu marido, até se arrepende em seu íntimo por não ter concretizado nenhum de seus anseios. Casou com o português, meu avô, e com ele teve algumas alegrias e muitas desilusões. 
Sempre foi uma mulher forte; suportou a morte da primeira filha, suportou a morte de sua segunda neta. Suportou a morte de seu marido, que, no fim de seus dias, se tornara tão carinhoso e preocupado. Suportou, suportou, suportou.

Sempre foi uma guerreira com nome de deusa: DÉA.

À ela, sempre os meus parabéns e o meu muito obrigada mais sincero. Se tem alguém a quem eu devo o que sou, esse alguém é ela.

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